domingo, 31 de outubro de 2010

Tropa de elite 2 - Um filme extraordinário.


Do Latim extra-ordinariu, o que não é ordinário, que sucede raramente, excepcional, anormal, singular, maravilhoso, memorável, notável, acontecimento imprevisto ou inesperado, fora do habitual ou do orçado, aquilo que habitualmente não se faz. Esses são alguns dos adjetivos que definem o extraordinário "Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro".

O filme de acordo com os dados da Rentrak EDI divulgados na quarta-feira (27/10), já alcançou a marca de 6,2 milhões de espectadores. O longa está em cartaz desde o dia 8/10 e o sucesso é tão grande, que está 'batendo' vários recordes de bilheteria (Filme mais visto na semana de estréia, filme mais visto desde a retomada do cinema nacional... e assim vai). É sempre bom ver um filme de qualidade, com recepção do público recíproca.

O José Padilha está revolucionando o cinema brasileiro em muitos aspectos, ele e sua equipe distribuíram o filme de forma independente. Óbvio que o orçamento veio do incentivo privado (para você tê-lo, o filme tem que ser 'grande' para possibilitar o retorno das cifras para o investidor). Até mesmo porque sem a distribuidora, só pode captar com a lei, o limite de R$ 4 milhões e o filme custou em torno de R$ 14-16 milhões (3 ou 4 vezes maior do que o captado por lei). Porém, da mesma forma eles viabilizam um novo caminho, uma alternativa para a rota de grandes filmes no país.

O próprio Padilha disse em recente entrevista ao Omelete.com os seus motivos: -'Primeiro porque não tem taxa de distribuição. Segundo porque não tem os prazos de pagamentos das distribuidoras. E terceiro, não tem a crosscolaterização, que é o seguinte: faz de conta que um filme faz dinheiro no Brasil, mas é lançado na Argentina, no Peru e perde - o Brasil paga as perdas dos outros mercados. Sem essas coisas, o filme fica mais rentável. Então eu acho que, de fato, com Tropa de Elite 2, inaugura-se uma via alternativa para o cinema brasileiro, que pode tornar o cinema brasileiro mais rentável, um sistema em que a distribuidora não cobra taxa de distribuição, não retém o dinheiro por um prazo de seis meses, que é o prazo de pagamento, e que a distribuição é remunerada por uma prestação de serviço. Essa é a ideia. E em que artistas, Wagner incluído, investem seu salário no filme. Se o filme der dinheiro, a gente ganha. Se não fizer, não ganha.'

Quem vive a margem do cinema mainstream (Isso também pode servir para a música, literatura, mídia...), sabe o quanto é difícil executar/divulgar o seu trabalho. Um exemplo das aberturas deixadas pela distribuição autônoma, é que apesar do Tropa de elite 2, ter sido assistido por cerca de 6 milhões de pessoas em aproximadamente 700 salas no Brasil, o mesmo só chegou ao Piauí (a Capital Teresina) com 21 dias de atraso, somente nessa sexta-feira, dia 29/10.

Os filmes, assim como todos os produtos, são classificados por categorias, tem o drama, a comédia, o terror, o suspense, a ação, o romântico entre outros. O Tropa de Elite 1 e 2, foram tão amplos que não caem em uma categoria normal, principalmente o segundo, são tão ricos em conteúdo (Características fortes de ação, comédia, drama, suspense...), que classificá-lo em uma vertente, seria um insulto aos admiradores do cinema e sem dúvida alguma iriam limitá-los.

São poucas as obras cinematográficas que chegam a esse patamar. O resultado é fruto dentre outros motivos, do timaço (a base é do 1º filme) composto para realizar esse trabalho. Um ótimo roteiro, excelente produção, excepcional edição, brilhante direção somado aos talentos de atores que viveram/interpretaram com tanta intensidade personagens como Beirada (Seu Jorge), Diogo Fraga (Irandhir Santos), Major Rocha (Sandro Rocha), Fortunato (André Mattos), Coronel Fábio Barbosa (Milhem Cortaz), Clara (Tainá Müller) e outros, sem esquecer é claro de André Matias (André Ramiro), Coronel Nascimento (Wagner Moura). O filme parecia muito real, ao assistir a atuação de Seu Jorge como Beirada, tive a sensação de estar assistindo um documéntario com imagens reais de uma rebelião (mesma coisa com Diogo Fraga - Irandhir Santos). Com certeza esse é o melhor filme nacional da temporada, será muito difícil algum outro superá-lo.

Como pessoalmente gosto de dar palpites antecipados, e até seguindo uma grande tendência de palpiteiros, arrisco que Tropa de elite 2, será o indicado do Brasil ao Oscar ano que vem (Apenas um chute justo e lógico).

A história em si, é a continuação do Tropa de Elite 1, O Nascimento é quem narra a história (assim como no primeiro), mas a diferença está no 'arco dramático', que desta vez é nele, é ele quem se transforma (começa de um modo e acaba de outro). Antes de rodar o filme, tem uma frase bem exposta na telona - Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência - ou algo parecido, obviamente no decorrer do filme o enunciado irônico se dissolve. Muitos espectadores saíram da sala do cinema comentando: - "Esse filme foi um soco no estômago" frase que devo concordar, por o filme ser tão realista e abordar temas polêmicos de forma corajosa. Um número razoável de críticos, ultilizaram esse termo.

Necessariamente o longa expõe falhas da administração pública, especificamente as consequências ligadas as opções de política de segurança pública no estado do Rio de Janeiro (a realidade do policial honesto no RJ é muito dura, má remuneração, vários riscos, ambiente coercitivo a corrupção, milícias, segundo emprego ilegal...agora que está mudando).

Esses erros admistrativos (ou eleitoreiros como quiser interpretar), possibilitaram um domínio irregular em favelas da região, pelas agora conhecidas Milícias. Há várias polêmicas enquanto a sua definição, por causa da dificuldade de explicar essa realidade nova, que é extramemente dinâmica. Normal que haja contravérsias, além do mais a palavra milícia, tinha outro significado antigamente, mas suas principais características de acordo com o sociólogo Ignácio Cano (Conceito adaptado) são: 1 - Comando/controle de um território (favelas, comunidades carentes), de seus habitantes através de um grupo ilegal e armado; 2 - A característica de coação (Uso da força, constragimento, ameaça) com o objetivo de manter o controle, logo os moradores tem medo do que possa lhes acontecer e não se 'rebelam'; 3 - A motivação é a lucratividade, o verdadeiro combustível deles é gerar renda, através de diversas atividades econômicas como transporte alternativo, venda de gás, de água, sinal de TV a cabo pirata entre outras fontes, é irracional pensar que esses grupos querem apenas restaurar a paz e a ordem nas comunidades; 4 - Um 'legítimo' discurso priorizando a proteção dos moradores e à instauração de uma ordem (Expulsar traficantes - Falso), na realidade trata-se de oferecer proteção paga contra eles mesmos; 5 - Participação ativa e reconhecida de agentes do Estado, essa participação precisa ser divulgada localmente, para que todos saibam que os milicianos são formados por policiais, bombeiros, agente penitenciário e outros, eles fazem questão disso. Essa publicidade do seu papel público cumpre importantes funções, assim atrai vantagens aos seus esquemas e conseqüentemente a manutenção deles.

De acordo com a CPI das milícias, presidida pelo Deputado estadual reeleito Marcelo Freixo- RJ (PSOL), o lucro mensal da maior polícia mineira, conhecida como Liga da Justiça, de Campo Grande, é de cerca de R$ 2 milhões.

Quando você combate milícias, você está combatendo deputados, vereadores de base governista (que possui articulações com o executivo, imunidade...), não é uma coisa fácil, contudo se compararmos por exemplo o governo passado do Anthony Garotinho onde apenas cinco milicianos foram presos e o atual no qual 480 estão preso, você repara uma maior preocupação em relação a essa modalidade criminosa.

A polícia mineira oferece ameaças concretas à sociedade, isso é evidente. No México, por exemplo, grupos milicianos evoluíram para o que lá já é chamado de -narcomilícia-, ou seja, a milícia atuando no narcotráfico. Relatos de cariocas/moradores de comunidades controladas por esses grupos, já denunciaram que algumas milícias já têm envolvimento com o tráfico, que é caso da favela Vila Joaniza, na Ilha do Governador, na zona norte. Denúncia que contraria a filosofia inicial deles (Ver a característica n° 4, do conceito de milícias - sociólogo Ignácio Cano acima).

O Tropa de Elite é cultura de massa, ele foi assistido por milhões de pessoas. Enquanto no primeiro filme, o povo admirou o Bope e seu líder capitão Nascimento, mesmo assistindo as cruéis cenas de tortura produzidas por ele e seu batalhão. Massificando deste modo, o apoio rígido na guerra contra o tráfico (Frustrando a verdadeira intenção da equipe no Longa). Deve-se entender que quando os 'caveiras' matam um traficante na favela, nasce três com maior disposição (É um círculo vicioso). O segundo filme deixou claro o que a equipe queria discutir, logicamente eles não concordaram com a primeira interpretação da maioria dos espectadores, e de forma genial produziram essa resposta, apontando no segundo a sua verdadeira opinião e intenção. 'Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro' é como esse blog, tem a intenção de acender o senso crítico nas pessoas, tenho certeza que quem assistiu o filme, saiu com um pensamento diferente, um olhar mais amplo e questionador da realidade.

domingo, 17 de outubro de 2010

Mudanças profundas na política – Uma revolução cultural.

O Brasil vive de fantasias, o interesse dos ‘cidadãos’ pela política é insignificante, e os poucos que se atraem, tem uma concepção definitivamente ilusória da realidade. São raríssimas as opiniões que ainda não se corromperam por essa ideologia. O povo no decorrer da história se tornou apenas uma ingênua massa de manobra das mais variadas facções.

Independentemente de coligações ou siglas partidárias (excluindo alguns escassos partidos nanicos e idealistas, que não tem representatividade eleitoral, ou seja, impotentes), eleições hoje em dia, são mera ficção. Não importa quem seja eleito, mudarão apenas as peças do tabuleiro, os grupos beneficiados com privilégios pela situação (quem os financiou/apoiou ou venha a financiar/apoiar) e os aventureiros, entre os quais no governo serão divididos. Nada será resolvido realmente, se não mudar a regra do jogo, da administração do Estado brasileiro, que se transformou em um balcão de negociatas.

Empresas ou financiadores não investem grandes cifras em candidatos por admiração a democracia. Logicamente esperam que seus interesses sejam feitos caso o beneficiário seja eleito. O objetivo do investidor varia e o que define é a sua área, tanto pode estar interessado no fortalecimento de privatizações, na redução/aumento de impostos, planos de expansão de setores econômicos (corporações profissionais), favorecimento em contratações, facilidades com agências reguladoras, órgãos de controle, favores fiscais e assim por diante. Observe que muitos exemplos citados acima, não deixaram de ser um interesse coletivo (Apesar de limitar-se a alguns grupos de pessoas).

Entre os maiores financiadores das campanhas eleitorais dos grandes partidos estão empresários, empreiteiros e banqueiros. É comum usar o cargo para favorecer doadores. Para confirmar esse fato, basta ver os principais investidores das campanhas presidenciais, com maior representatividade eleitoral, é nítido a presença desses ‘apreciadores da democracia’. Um exemplo são os bancos: Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) foram os que mais arrecadaram com eles (A mesma quantia por sinal, que coincidência!), entretanto Marina Silva (PV) tem um apoio de destaque, o banqueiro português Álvaro Antônio Cardoso de Souza, ex-presidente mundial do Citibank Private Bank (O mesmo banco, que durante os anos 80, foi o maior credor privado da dívida externa brasileira), principal arrecadador da campanha verde à Presidência da República.

Em 2009 foi criada pelo Dep. Federal-SP Ivan Valente (PSOL) a CPI da dívida pública, onde foi comprovado que cerca de 36 % do orçamento da União no ano, foi gasto apenas com o ‘débito’. Sendo que em sua maioria, são apenas juros a favor da dinâmica do mercado internacional, ou seja, cada vez que os juros sobem no mercado internacional, a dívida do país também aumenta (são proporcionais) e quando o Brasil entra em um momento de crise, aumenta os juros para captar dólar, conseqüentemente a dívida de novo cresce. Assim fica claro, o motivo de tanto interesse dos Bancos em campanhas eleitorais, afinal, são eles quem mais saem ganhando com esse ralo de escoamento das nossas riquezas.

Incompreensível, pois de acordo com dados do IBGE de 2008, o Brasil possui 14.109.000 habitantes com 15 anos de idade ou mais que são analfabetos, o que representa quase 10% da população total. A taxa de analfabetismo funcional de pessoas com 15 anos ou mais é de 21,7% da população. Investir de fato na educação nem pensar, mas bilhões encima de bilhões em juros com histórico de contradições e injustiças, para banqueiros ficarem mais ricos, a fim de financiar suas campanhas, com certeza.

O mais contraditório foi saber que através da Comissão Parlamentar de Inquérito dessa dívida, que se conseguiu ter acesso aos contratos, no qual o governo federal negociava com os bancos. Desde 1990 (gestão do Fernando Collor), ninguém tinha acesso a esses contratos, conflitante, pois uma das básicas funções de um Dep. Federal, é fiscalizar os gastos do orçamento do governo federal. Após 19 anos de muitos gastos inúteis serem feitos (Cerca de R$ 2 trilhões para ser exato), foi confirmado esse rombo, que de acordo com a lei é legal.

Alguns políticos fazem auto-doações que chegam a porcentagens bem elevadas dos bens que declaram possuir. Outra indagação é como que um candidato gasta recursos tão grandiosos para se eleger, a um cargo que nem de longe gerará (oficialmente) algo parecido com o valor aplicado. Pra quem acredita na existência de Papai Noel, em renas voadoras e abiogênese (geração espontânea) de dinheiro, isso é normal e compreensível.

De acordo com os dados do site, àsclaras.org, as eleições de 2008, movimentaram R$ 1.724.497.478,23 apenas declarados. É um absurdo a quantidade de gastos que se tem nas eleições. Em SC teve um vereador eleito, que teve 4ª maior campanha do Brasil em 2008, perdendo somente para os três principais candidatos à prefeitura de São Paulo. Se dividir o número de votos dele, com a receita declarada, seria R$ 31.076,19 por voto. São valores exagerados que causam indignação ao serem comparados com o miserável padrão de vida da população brasileira.

Hoje em dia os candidatos estão investindo grandes valores em marqueteiros e superproduções de TV, para iludir o povo. A sociedade deixou-se levar pelas miragens e falsas resoluções (maquiagens) do governo ou ficaram desacreditados ao ver as corriqueiras notícias de corrupção, como isso fosse motivo de desânimo e não de espírito de mudança.

Atualmente na dita política é raro que o idealismo mova as peças. Recursos públicos elevados são dirigidos, sem qualquer critério ou controle. Um exemplo é à contratação de assessores, os quais, em quase sua totalidade, não passam de cabos eleitorais sem preparo político, pagos com dinheiro público.

São necessárias, mudanças profundas na política, quebrar paradigmas, costumes enraizados em nossa cultura, criar medidas alternativas e pragmáticas embasadas no interesse público e na transparência. O impedimento é o Estado, o seu projeto de administração é completamente ‘eleitoreira’, esse sistema é mantido pelos despolitizados ou conhecidos também como analfabetos políticos. Fato que causa uma lista renovável e abundante de disfunções do governo na prática, ou seja, o Estado acaba sendo mais parcela do problema do que solução.